segunda-feira, 31 de maio de 2010

Cotidiano


Segunda feira não deveria ser dia. Chega a ser cruel.
É aquela sensação de preguiça extrema ao acordar, o lençol gelado entre os pés e o travesseiro parece exalar um cheiro sedutor de propósito. E de quebra, a cidade faz questão de esfriar, não duvido que exista um pacto entre esses dois.
Acordei bem cedo hoje, da janela de frente pude escutar os dois pássaros da vizinha cantarem.
Eu estava com aquela fome de leão, causada por um sono de doze horas. Fui até a cozinha e deixei a água para ebulir e separei três torradas com manteiga, apesar do meu desejo por uma mesa farta de doces e salgados, como casa de vó no interior. Nunca tive, só acho que deva ser assim, e depois daquele bendito café, ela senta no sofá e você também. Nisso ela coça as suas costas e conta como você era sapeca quando criança. Ai, mas é uma delícia todo esse chamego.


A água ebuliu e fui preparar meu café. Sentei na poltrona da sala e fiquei observando as pessoas da rua, com passos largos e rápidos, detidos pela pressa e necessidade de trabalhar.
É a rotina de cada um, cada história e cada realidade.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Intensonho

Começo de semana e fim de noite. Desde que comecei a sentir frio debrucei meu rosto sob a barra da janela e questionei-me perguntas insistentes. Tais que talvez continuem sem resposta durante um tempo oculto. Há mais de uma hora avisto uma prostituta do outro lado da avenida. Muitos carros passam e nada. Ela de mini saia rosa bebê eu aqui de moleton coberta de meias rosa bebê também.
Qual o problema dela? Feia não é que enxergo muito bem de longe. Posso sentir o quanto ela tem medo e vontade de sumir daquele lugar.
Quando criança, morava na Afonso Pena e tinha certo costume de contar quantas prostitutas estavam lá, desde o ponto do Palácio das Artes até a Telemig. Teve uma vez que foram 32. Eu adorava fazer isso e nem tinha uma pitada de maldade. Ainda bem, sabe por que?
A pequena maldade que conheço hoje não me é nada saudável. Me cansei totalmente de acreditar em todos e no final do enredo, mesmo sem ter razão suficiente, me saem lágrimas.
A menina foi embora, entrou no carro. Prata, EcoSport se não me engano. É, bom programa e boa sorte. Hoje morro de dó, antes era mais divertido. Como também era brincar de boneca e não ter ilusões. Eu era criança e sonhava ingenuamente, hoje sou jovem e ainda sonho.

domingo, 23 de maio de 2010

Ode to my Family

Estava recordando de quando ia dormir na casa da minha irmã, aquele porcelanato gelado era gostoso para refrescar aquele calor absurdo de Brasília. O strogonoff divino de carne feito pela Alê era uma coisa dos sonhos, tentei fazer um dia aqui em casa, não chegou nem perto. O que é uma pena.
Eu dormia junto com a Maria Eduarda, e ve-la dormir é um passatempo saudável, aquele rosto branco com bochechas rosadas, tão doce, tão carinhosa e tão levada!
Como de praxe, durante a madrugada eu ia na cozinha comer um biscoito para voltar a dormir de barriga cheia, e lá estavam os armários abertos, e meia banana na pia. Desde que conheço minha irmã, ela insiste em fazer isso e nunca vai mudar. Ainda bem.
Ed, grande Ed. Esse sim é um cachorro humano, ele não precisava latir para que eu pudesse entender tais necessidades, e que olhar expressivo meu filhote tem.
Lembro que no dia que ia me mudar, ele simplesmente pegou meu tênis e deitou em cima dele. Quando ele percebeu que eu estava chorando, levantou-se e enconstou o focinho em minha perna, depois pediu colo.
O dia em que passamos na casa do Fernando colhendo amoras, foi eu, mamãe, Maria, Dindinha e o safado do Ed. Foram três baldes cheios. Desejei que alguém tirasse uma foto daquele momento pois daria um belo retrato. Após colhermos, lavamos as frutinhas azedas e fizemos um suco. Eu e minha sobrinha lambuzamos nossa boca de amora, e nossas mãos acabaram ficando manchadas.
Aprendi a dirigir ilegalmente com o Fernando, era todo domingo na área isolada do Lago Sul. Deixei o carro morrer inúmeras vezes, e para aprender a dar uma ré decente, foram uns três domingos. Hoje eu não tenho coragem de pegar o carro aqui em Belo Horizonte, é bem capaz que eu bate no meio fio. Mas sabe, dirigir é muito bom, só que fui mal acostumada por causa do lugar. Azar.
Sinto falta da minha mãe mandando eu lavar a louça, e muita das vezes era apenas um copo. Antes eu achava pura neura, mas agora a entendo perfeitamente. Acho que ela sempre achou que eu tivesse facilidade para dormir, porque toda noite ela abria a porta do meu quarto e me cobria, e me encarava com cara de mãe. Eu sempre achei isso uma fofura, e é uma das coisas que mais sinto falta. A gente ficava até tarde assistindo filme, seriados e manhattan conection.
Lembro que quando uma brigava com a outra, ela dizia que não ia fazer mais almoço, e ficava nessa por dois dias, até que no terceiro dia ela estava lá, de frente pro fogão. Saudade tem lá seus pontos positivos.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Poema (Fernando Dias)

Poema é noite cheia de amargura.
Poema é a luz que brilha lá no céu.
Poema é ter saudade de alguém, que a gente quer e que não vem.
Poema é um cantar de um passarinho, que vive ao perder seu ninho, é a esperança de o encontrar.
Poema é a solidão da madrugada, um ébrio triste na calçada, querendo a Lua namorar.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Ponteiro

Feito com o Hélio

Quando eu acordei, me senti quente. Estava nos seus braços, é claro. E o jeito como você acariciava meus cabelos, como eu sentia o cheiro da sua pele e sua respiração fazia cócegas em meu ombro. O tempo não passa com você, ainda assim, nunca é suficiente. Olha só, quero te dizer algo que tem muito tempo que eu queria dizer. Olha pra mim.

Veja como meus olhos querem te dizer algo. Por mais sucinta que desejo ser, não me conformo nas palavras que decidi lhe dizer, parecem insuficientes, e te culpo por isso, por tanta perfeição contida em um só corpo. Enquanto você adormecia, aproveitei a fresta aberta da cortina para te observar, e não pude me conter; percebi que era você, e dessa vez, eu não tive dúvidas. Esse seu rosto lindo, enquanto dorme, me faz pensar o quanto a vida é cruel. Droga, eu sabia que era você, sem dúvidas, e eu sentia muito por isso. Eu podia te amar de tantas formas, mas eu sabia: era você quem eu iria quebrar o coração.

E realmente, eu não tenho motivos para isso, não é da minha natureza, da minha índole. Às vezes eu pensava em maneiras de contornar tal fato, evitar te machucar, correr o risco de te perder. Cogitei certa ideia de você vir morar comigo, percebi que cervejas não foram suficientes, somente seu alento podia me confortar, e é verdade. Mas algo dentro de mim me impede, entende?

(...) Minha vida inteira foi composta de afirmações, não sei se estou preparada para a primeira negação.

Então, quando você me olha, eu finjo meu melhor sorriso e você é tão lindo que eu me sinto num clichê terrível por tudo o que está acontecendo. Eu vou falar. Eu tenho que falar. Tem muito tempo que tem algo que eu tenho algo pra te dizer. Posso dizer? Então, olhe pra mim.

- Eu não te amo, mas eu te amo.

Sua testa se franze de um jeito doce (até assim você consegue ser doce), é demais para mim. Eu não queria respostas. Desejei estar surda naquele instante. Foi quando você me envolveu em seus braços e sussurrou:

- Isto não é o fim. Nós ainda nem começamos.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Aqui e ali.

Tem muita coisa que você procura esconder, e isso não só me intriga como me faz querer saber mais a cada instante.
Ficar calada faz parte de meus planos, por mais que eu tente desvendar algo em ti me sinto impedida, não devo, não posso. Por que eu, e não você? Sei que não é medo, então é tudo falta de vontade?
Impossível de saber.
E também não sei agir.
Eu tenho paciência, e como tenho, só não sei se vale esperar ou continuar calada.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Negros olhos

Com Hélio
Quando o vento entra pela janela, eu me arrepio. A solidão daqui é tão cruel, onde você está? Foi comprar cigarros mas nem fumava. E todos aqueles sonhos nossos? Estão empacotados entre os livros velhos e a caixa de vinis do meu pai. Bóris me olha com seus olhos de gato, ele sabe. Acho que se ele falasse, até diria porque você se foi.

Talvez porque eu discutia com você por ter tanto ciúme, por ter tanto medo de um dia te perder. E agora esse medo me consumiu. Talvez fosse apenas uma daquelas histórias de que eu estava com medo e você me dava segurança. Na verdade, o medo é a única certeza da minha vida. Mas é que sem medo eu não faço as coisas. Sem o medo de fracassar, eu nunca teria mudado de cidade, de vida, de amores. Eu não seria nada sem meu medo.

Agora estou aqui, neste apartamento gélido, onde a outra metade da cama é incapaz de ocupar um vestígio seu. Nem o Bóris insiste em espreguiçar todo aquele corpo gordo e peludo no edredom, e isso é impressionante. O clima é pesado, sua ausência me causa um aperto desconhecido, se é paixão eu não sei.

Se foi paixão eu até duvido, mas que foi muita coragem, ah isso foi.

Os minutos passam e não me canso de olhar para o celular, ainda espero um retorno seu, uma mensagem, um toque por engano. Fico pensando o que você recorda de mim, será que fui o bastante para o seu amor? Me indago até chegar a respostas, mas não são respostas, eu continuo em dúvida. E pela primeira vez, choro por alguém.

Quando o vento passa na sala, eu guardo todas as minhas lembranças e perguntas e coloco ali na caixa que eu vou deixar, quando eu partir. De você, só levo uma caneca linda e um livro de Burroughs, sobre gatos. E Boris, é claro, porque sem seus olhos eu teria muito medo de viver.