segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Bom dia, flor do dia! III

"Querido diário, aconteceu um milagre, estou de férias! Minhas aulas voltam apenas em Fevereiro, e agora vou poder visitar a minha família. Victor vai pra Ouro Preto comigo, ou seja, minhas férias caminham para a perfeição. Até o Chiconildo vai! Espero que ele aguente as 7h de viagem, a não ser que a estrada esteja vazia... O que eu duvido! Esse pessoal aqui do litoral cansa de praia e inventa de ir pro interior pra acordar às 6h da manhã e apertar tetas de vaca para voltar e dizer que tirou leite. Grandes coisa. Desde criança quando eu e papai íamos para o sítio lá em Divinópolis, a gente passava as férias lá, cuidando da única vaca que nos dava leite, a Nina. Mas era uma vaca bonita que só. Gordinha, dona de um leite divino! Tão mansa que era mãe dos cachorros que apareciam lá no sítio, sem qualquer preconceito. Papai me disse que tinha domingos que eu me sentava na cerca e contava histórias para Nina dormir. Vê se pode o nível do meu depravamento... Como se diz: "Contar história para boi dormir", só que nesse caso era uma vaca. Quase...

Divinópolis era gostoso de se morar, a vovó era amiga da Adélia Prado, grande escritora e um amor de pessoa. A neblina cobria as colinas que envolviam o nosso sítio, o cheiro de café invadia as minhas narinas e papai tocava violão para a mamãe. Era amor demais. Eu os observava pela rede, no vai e vem do balanço, e cada ida era uma troca de sorrisos entre eles.

Terça era dia de colheita, eu pegava as minhas botinhas de borracha e me juntava com o pessoal. Tinha vez que eu fazia a felicidade das galinhas e arrancava alguns pedaços de couve e as alimentava escondido. Era cada pé de alface mais verde que o outro, e cada tomate de dar água na boca, nos olhos e em qualquer outro lugar. Eu quis plantar papel, com o objetivo de que nascesse mais para que eu pudesse desenhar. Os papéis de desenho tinham acabado, e quando desenhei no jornal do papai recebi um tremendo torra. E quem disse que nasceu?

Do alto do telhado dava pra ver o trem passar e eu passava horas contando quantas vacas nossos vizinhos colecionavam. E não eram só vacas. Haviam cavalos, uns mirrados a ponto da bacia aparecer. O córrego que passava entre o nosso sítio e o do vizinho era tão límpido que dava vontade de tomar banho ali mesmo. Mas o frio de Junho não nos permitia tal audácia.
Nessa época, papai ficava pouco tempo conosco, nos deixava no sítio e ia pra faculdade dar aula até sexta-feira, quando acabava, pegava a estrada e vinha nos fazer companhia. Mamãe morria de saudades dele, tão frágil, que quando eu entrava no seu quarto sem bater, a encontrava encolhida na cama com os olhos tristes... me juntava a ela e contava uma história, pra ver se ela despertava algum sorriso que pudesse me confortar. Amanhecia e a tristeza tinha ido embora, todo dia era dia de alegria.
Vovó ficava até tarde costurando, dessa vez era um vestido, e pra mim! Azul!"

Azul... eu preciso do meu vestido azul para viajar! Chico, o que você está fazendo?
- Miaaaaaaaaau!
- Ô menino, vem aqui!
- Miu...
- É né, com o rabo entre as pernas! Você é um gato, não um cão! Seu bobo! Que é isso dentro da sua boca? Meu chocolate? Gordo! Gordo!
- Minhau.
- Parece gente...

domingo, 26 de dezembro de 2010

A sós

Sensores, meus dedos contornam tuas curvas feito sensores.
Tuas pernas retraídas, impulsos que respondem.
Tu solicitas a mim mais uma dose. De pronto, faço sinal de positivo
com um sorriso meio termo. O teu cabelo esvoaçante embala
minhas doses de adoração a um sentimento que emana da tua carne,
à medida que teus suspiros distorcem meus pensamentos,
à medida que o espelho da sala de estar reflete a sombra
de dois corpos dispostos a mover a parede azul feita com esmero.
Teu modo ingênuo de portar-se cobre meu jeito misterioso de agir.
A cada enlace, teus pés parecem mais distantes do chão.
Tuas mãos suadas me tocam, tua fragrância é um convite à luxúria,
e meu medo de te fragilizar é queimado com o calor do teu corpo.


(Como posso me esquecer desse texto? É inadmissível...)