segunda-feira, 5 de abril de 2010

Terminal

Aquele assento parcialmente confortável não me consolava em nada, encostei minha cabeça na janela e esperei o motor ligar para ter ódio da partida. Tentei me concentrar e ler um pouco de Faulkner, mas não via sentido naquelas palavras. Eu precisava de um cigarro, pensei, mas cigarro não, eu estava tentando parar.

Talvez um copo inteiro de pinga resolveria meu problema, mas devido ao meu enjôo eu vomitaria o chão do ônibus inteiro. Aquele cara ali do meu lado era um intrometido, me encarava de um jeito tão fúnebre. Ou talvez estivesse realmente preocupado, coitado.

O que eu queria era ficar ali pra sempre. Aquele ônibus prestes a partir, aquela chuva que me lembrava que o dia estava acabando mal. Ir embora sempre era a pior parte. Olhava as luzes do lado de fora e pensava: como uma cidade podia brilhar tanto? Queria que tudo se resumisse à mim, assim não haveria lugar para ir. Não haveria mais partidas.

Não poupei lágrimas, e como elas ferviam. Meu corpo não reagia por falta de vontade, mas se eu pudesse desfrutar da minha única vontade eu sairia dali naquele instante. E quer saber? Eu podia sim fumar um cigarro. Que droga, parte de mim sempre morria ao deixar este lugar. Eu queria deixar isso dentro de um cinzeiro e só soprar tudo na chuva lá fora. Depois sairia correndo, porque mesmo sem rumo eu teria um destino.

E quando penso em correr e ficar, o ônibus segue seu rumo, e eu sigo sem destino.

(Hélio compôs o texto também)

4 comentários: